Bem, este texto é pura e unicamente para parabenizar o casal mais ilustre deste mundo: meus pais. Eles estão comemorando seu trigésimo ano de união e cumplicidade e, baseada nisto, eu gostaria de expor como me sinto a respeito desta data.
Há 30 anos atrás, dois seres humanos foram unidos por Deus, se tornando apenas um. São 360 meses de profunda parceria e companheirismo. Longos 10.950 dias de pura confiança, 262.800 horas de um amor insuperável, alguns segundos de desentendimentos e longos minutos de reconciliação.
Vivendo ao lado deles dois durante meus tolos e inexperientes 17 anos e meio de vida, pude ver e compreender que um casamento não é mantido pelas aparências e pelo dinheiro, mas sim fortalecido pelo respeito e pela confiança mútua.
Há muito mais de 30 anos atrás, duas pessoas viviam vidas semelhantes, tinham sonhos semelhantes, desejos semelhantes e o que mais tinham em comum: nem sonhavam em se conhecer um dia.
Ela, uma menina introvertida e amedrontada, que resistia todos os dias aos extremos maus tratos físicos e psicológicos de pessoas que só deveriam lhe dar amor. Ele, um garoto de vida difícil, que apesar de ter tido que trabalhar duro para suster toda a família desde tenra infância, carregava sempre um sorriso no rosto. Ambos, mesmo separados, sem nunca terem se visto, resistiram aos maus tratos; aos preconceitos, aos abandonos, à escassez, à fome. Mas aquelas duas crianças que carregavam em si adultos sofridos, resistiram a tudo aquilo porque ainda havia algo muito especial, recompensador e libertador guardado para eles: eles mesmos, um ao outro.
A vida fez das cruzadas uma pista de mão única, para que cada um deles trilhasse a estrada em direção ao outro, sem que houvesse desvios. Há 30 anos atrás, aquela menina e aquele garoto se encontraram... e se uniram. Mas nem tudo foram flores. Sofreram sim, sofreram preconceito, foram praguejados, mal compreendidos por familiares. Sofreram a massacrante dor de perder um filho. Mas tudo o que sofreram, passaram juntos, um amparando as lágrimas do outro; resistindo fortemente quando a vontade era de desistir, quando a força parecia já não se fazer mais presente.
Mas, bons mares vêm para quem sabe navegar. As coisas mudaram, tanto material quanto sentimentalmente, mudaram para melhor. A união trouxe três crianças insuportáveis muito amadas que o casal atura há quase 30 anos lhe dando despesas e enchendo sua paciência, mas mesmo assim, não somos menos amados por isso. Como nossa família nunca foi o retrato das famílias comuns, sempre fomos meio loucos, palhaços, e nunca fomos de melosidade um para cima do outro; mas, sem dúvida, nos amamos muito e sabemos demonstrar isto de maneiras bem peculiares.
Meus pais sempre foram meio misteriosos. Há certas coisas na vida deles que não os deixam muito à vontade para compartilhar, afinal, como diz minha mãe: "coisas ruins não devem ser lembradas". Eles, com certeza, passaram por muito mais do que contam. Mas isso também não é da minha conta, casal que se preze tem seus segredos guardados apenas um para o outro.
Nunca fomos de dizer "eu te amo" 2.000 vezes ao dia um ao outro, vivemos naquela de "você sabe que eu te amo loucamente, então, não me olhe assim"; e devido a isto, às vezes nossa recíproca parece ficar suspensa no ar. Entre o casal em questão isso também acontece; eles não são de ficar se declarando um para o outro, mas muitas vezes se declaram para mim! Não... não exatamente para mim, como você deve ter compreendido, mas eles me usam para expor o que sentem um pelo outro, e eu morro de felicidade com as coisas que ouço dos dois.
Veja, quando eu era pequena, não tinha uma relação tão boa com a minha mãe, éramos bem distantes. Mas era porque, como toda criança/adolescente eu achava que sabia de tudo e que minha mãe não gostava de mim. Mas cresci só um pouco e percebi que, na verdade, ela fazia muito esforço para conseguir expor todo amor que guardava. Eu me esquecia de uma coisa: ela não teve esse amor, para ela era difícil dá-lo a alguém. Com isso, meu pai sempre me dizia "Compreenda um pouco a sua mãe, não aja assim com ela. Ela teve uma vida muito difícil", o tempo me ensinou a entender o que ele me dizia e a amar minha mãe cada vez mais. Aos poucos, temos nos tornado grandes amigas. Já ela, durante uma conversa emocionante, me disse com os olhos cheios de lágrimas: "Quando conheci o seu pai, comecei a ter uma vida". Nesse momento nos abraçamos por um longo tempo, e eu percebi o quanto eles sentem necessidade um do outro, como se precisam, como se completam. Ele tem um jeito todo especial de resolver as coisas entre eles quando há algum desentendimento, e ela sabe controlar as loucuras dele como ninguém.
Bom, eu só estou aqui para dizer que os amo muito e que desses 30 anos, surjam mais 30, 60, 120 anos de amor, amizade e cumplicidade. Desejo que este casal, que tanto se amou e se respeitou na saúde, na doença, na felicidade e nas dificuldades, continuem segurando firme este colar para que possa ser colocada nele a 30ª pérola sem que ele arrebente. Até que a morte os separe.
Pai, mãe... Feliz Bodas de Pérola!
E 'o que Deus uniu, o homem não separe'.
de Manoelle D'França para duas pessoas extremamente especiais.
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Baseado no trabalho disponível no blog Maphago.
· 14/04/2011 ·