Tique-taque do poeta preguiçoso

  • 1


07:00.
Sente pesar o corpo,
Contrai-se como um todo
A fim de lutar contra a tal sonolência
Que aos trancos presta sua ausência.
Um café malfeito,
Um bolo sem confeito,
A areia nos olhos
Por não ter conseguido dormir direito.

10:30. 
Pragueja à chuva
Que se aproxima às lufadas,
Tranca as janelas e
Chacoalha as páginas molhadas
Danificadas pelos vacilos
Que dá enquanto escreve.
Reorganiza tudo enquanto oscita de leve.

Meio-dia. 
“Panela no fogo, barriga vazia”.
Vai, então, recobrando a energia,
Torcendo o nariz para a mente vazia
De tantas ideias jogadas nas folhas
Molhadas de chuva, já cheias de bolhas.

17:00
Café gelado que de manhã pelava,
Espreguiçando-se no sofá, que já lhe chamava.
A televisão em volume inaudível,
No enfado do domingo
Ver expressões sem voz parece algo incrível.

20:00. 
Sonhando com as páginas,
Repousando sem lágrimas.
O sofá tão rígido e desconfortável
Já então lhe parece afável.

23:40. 
O poeta acorda.
As noites pelo dia ele troca.
Sonhar ao dia, trasladar à noite,
Antes que o esquecimento torne-se um açoite.

01:00. 
Reúne a fantasia, a realidade e o som
Ao descobrir que poetizar é um dom.
Apercebe-se que está com sorte
Ao ver que nas folhas, a criatividade traçou riscos fortes.







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· 28/12/2011 ·

A renúncia de um anjo

  • 0


Da vida a pior crueldade, foi mostrar-me aquele anjo
Ao chão jogado, sem qualquer resquício de dignidade.

Os abraços que um dia dera, tornaram-se vis correntes de aço.
Os beijos que recebera, nada passavam de traquejos para traições.
Os dependurados que salvara do precipício da insensatez, puxaram-no pelos pés e assistiram sua queda.
Os friorentos a quem aquecera, certo dia envolveram-se em suas penas arrancadas a contragosto,
Deixando suas belas asas em frangalhos.

O homem a quem dera seu amor, fizera do anjo uma meretriz.
Os cabelos um dia feitos das nuvens do céu, agora não passavam de uma fumaça cinzenta que inibia a visão.

O belo anjo ao cair, descobrira ter ossos, carne e sangue
E que levantar-se sozinho seria o começo de todo o desagravo.
Descobrira que era um ser humano e que abençoar os passos alheios não seria agir como tal.

Malícia, do que outrora não soubera o significado, tornara-se seu olho esquerdo
E a vingança, que um dia fora pura tolice, tornara-se seu olho direito.
Sua armadura protetora tornara-se nada mais que uma pobre vestimenta em andrajos.
Mas seu poder tornara-se intenso. E aniquilador.








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· 26/12/2011 ·

Presentes vislumbres do passado

  • 0


Serena menina ao sereno da madrugada
Brincava na beira do oceano que com a água agitada
Espalhava conchas pela areia límpida
Que beijava os pés da menina, cuja alegria era nítida.

Enquanto a lua vigiava sua candura
A menina corria, de vaga-lumes estava à procura
A eles fazia pedidos como se fossem fadas
Que quando soltas, iam ao encontro das estrelas brilhantes no céu penduradas.

O vistoso algodão-doce no céu
Estava distante demais para suas mãos miúdas
Cobria a lua como um véu
Mas sequer chegava perto de sua boquinha pedinte de açúcar.

As flores que dançavam com a suave brisa do mar
Serviam-lhe de coroa para reinar sob os encantos do luar
A areia era da princesa o aposento
Até que amanhecesse em seu quartinho decorado
Com o coração sonolento e sonhando alto.







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· 19/12/2011 ·

E se?

  • 0
 
 

Se você disser que me ama, esperará que eu me entregue?
E se eu disser que nunca me entrego, nem aos meus obstáculos e nem a ninguém?
Se eu disser que te amo, você será incondicionalmente ao meu lado?
E se eu disser que o incondicional não há?

E se eu provar que não sou como as outras?
Que piso em todos que se curvam demais diante de mim?
Ainda assim tentaria encarar-me na altura dos olhos?
E se eu os fechar?

E se eu disser que não presto?
Decidirá correr incansavelmente atrás de mim?
E se eu disser que correr não adianta, porque só sei voar?
Ainda assim você decidiria pegar carona com um anjo?

E se eu disser que um anjo levaria-te alto demais, enquanto que eu voo quase com os pés no chão?
Ainda assim tentaria flutuar para alcançar-me?
E se eu disser que não sinto nada por ti, você acredita?
E por que será que, apesar de tudo, eu também não acredito?








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· 124/11/2011 ·

A velha morada

  • 2

Desenho espirais na poeira da mesa.
Enquanto junto as cadeiras, relembro as cenas de uma antiga surpresa.
As fotografias e roupas espalhadas pelo chão,
Trazem-me ao pé do ouvido uma velha canção.

Cândidos pássaros invadem a casa,
Fazem-me acreditar em um possível recomeço.
Solos de piano invadem a sala
E fazem-me esquecer de tudo o que ainda conheço.

Sons que surgem do passado,
Pássaros enviados do futuro,
Luzes que ascendem das janelas,
Fazem-me respirar fundo.

Há algo distante daqui,
Porém vivente dentro de mim.
Algo parecido com esperança.
Contudo, não é bem o que parecia,
Recai-me como nostalgia.

Algo ainda habita a velha morada
E ainda deixa passos pelas escadas.
Algo como o brilho nos olhos de uma criança,
Que parecem relâmpagos de alegria
Distantes de quaisquer lástimas,
Mas que na verdade, são apenas lágrimas.






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· 25/11/2011 ·

Materno

  • 0



Tornou-se mulher
a moça que um dia foi menina.
E seu ventre fez-se crescer,
Fez-se nascer, gerar vida.
Anjo de luz esvaindo-se em amor,
Ser santificado
que traz em seu sangue a dor.

Mulher, genetriz, cúmplice, irmã;
Doce cantiga de cada manhã.
Amor inabalável,
Perdão incontestável.
A bússola que me leva ao norte,
A mais frágil das obras,
Erigida em colunas violentamente fortes.

A torre, o refúgio, o pão.
Guia que me carrega pela mão.
Do seu corpo perpetrei meus alentos:
Em seu ventre, lar;
Em seu seio, alimento.

Mãe.
Teu gerar penoso,
Teu olhar cauteloso,
Teu doce acalento,
Trazem-me proteção contra o cruel relento.
Mulher que ao conceber, fascina;
Teu incondicional amar ensina
que de tão esplêndida,
Para Mãe, não há rima.







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· 10/11/2011 ·

Canário & Carina

  • 0
 


No topo da colina
Vive uma menina
Preciosa beldade
Bonita Carina.
Menina, me olha
Carina risonha
A altura do monte para mim é peçonha.
Menina Carina
Levante o vestido
Ponha os pés no lago e faça um pedido
Que algum canoeiro a traga consigo
Que a deixe na margem e em tom de perigo
Avise que os pássaros tomam o lugar.
E quando te vir, para ficar contigo
Aprendo a andar ou te ensino a voar.







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· 06/11/2011 ·

Partindo com a Lua

  • 2


http://fc04.deviantart.net/fs21/f/2007/300/e/d/eda432291c386e3a.jpg



Admirei a Lua antes de partir.
Conversei com ela
e confessei ter acordado pensando em coisas sem sentido,
Do tempo em que, à noitinha, eu sussurrava em seu ouvido.
Senti saudades do que não tive, daquele amor não correspondido;
Dos sonhos que, jogados pela janela,
Foram parar em outros travesseiros;
Daqueles teus carinhos, tão cínicos e traiçoeiros.


Desci, então, as escadas do velho terraço
e fui em direção ao quarto pouco iluminado;
Despedi-me do facho de luz que me escapava pela cortina.
Deslizei os dedos pelos livros empoeirados
E despedi-me docemente do antigo espelho quebrado,
Que todo o tempo lembrava-me de meus fracassos;
Mostrando-os a mim todos os dias de minha vida,
Não permitindo-me que se sarasse sequer uma ferida.


E então, parti.
Mas deixei um rastro antes de ir.
Rastro feito com o sangue da ferida exposta em meu coração,
Ferida feita pelas punhaladas da solidão.
Em meu sangue, sujei a velha caneta-tinteiro
e deixei uma mensagem ao próximo marinheiro:


'E daqui partiu com a Lua um espírito solitário,
Que não mais cursa o mesmo caminho.
Alguém que após o abandono,
Sentiu o frio da solidão congelar o sangue
outrora corrente em suas veias.
De um coração moribundo largado às tantas de uma madrugada.
De um ser andarilho viajando de volta ao pó da criação humana.
De uma única centelha apagada há tempos.'






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· 10/10/2011 ·

Pureza daninha

  • 0



Ó, rainha, erva-doce, erva minha.
Venenosa estrela-de-anis, dos lábios de botão de rosa e olhos negros como cassis.

Ó, mulher, feiticeira; ó, menina.
De alma impenetrável como um espelho,
Refletes minha imagem de volta sem revelar-me teu interior;
Bem como o imaginário mel dos teus lábios deixa-me em dissabor,
Por não saber seu gosto,
Por ainda não ter descoberto o grau de ebriedade que me traz este amor pressuposto.

Branca rosa, recendendo a sedução.
Quero provar da tua doçura, quero sentir o toque da tua mão.
Quero tocá-la suavemente, como se toca as cordas de uma harpa,
Quero bebê-la numa taça de cristal.
Para remover do meu coração esta farpa,
Só mesmo tua inocência cedendo a este amor irracional.

Quero descobrir tuas belas curvas, moldando-as como barro.
Quero ter-te acolhida, sob o meu afago.
Quero mostrar-te o céu, e remover de minha boca o fel da desilusão.
Quero provar-te, quero amar-te.
Quero dar-te meu coração, moído em reluzentes grãos de paixão.
Quero dar-te de um homem apaixonado, a devoção.

Dê-me a oportunidade de fugir dos meus sonhos e viver a tua realidade
Deixe-me mostrar-te o que é o amor de verdade.







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· 03/10/2011 ·

Doces amargos sonhos

  • 10




    Todas as minhas noites... Todas elas, são mágicas.
    Da porta dos meus aposentos à maciez do meu travesseiro, todos os meus sonhos se realizam, e então eu consigo ser indiscutivelmente feliz por algumas horas. Preciosas horas.
    Mas é digno de ser lembrado que momentos bons voam. Passam tirando tudo do lugar e, de repente, somem como uma tempestade repentina, como chuva de verão. E então tudo se acaba... outra vez.
   Minhas noites são mágicas porque eu as passo todas acordado, desperto, ocupado demais para dormir; realizando meus sonhos mais improváveis, doces, impossíveis.
    Meus doces amargos sonhos. Que são doces por darem cor às minhas noites sombrias, e amargos porque todas as manhãs voltam a ser preto e branco como uma fotografia antiga corroída pelo tempo.
   Minhas tristes e volúveis manhãs, que cobram-me todos os dias o alto preço por sonhar demais. Alto preço que me dói pagar, pois não pode ser quitado com as "preciosidades" pelas quais a humanidade se autodestrói, mas sim com algo muito mais valioso: O amor à própria alma. Amor pálido, falido, amor do qual já não me resta nada, de tantas dívidas que tenho pago às minhas manhãs.
   Oh, minhas manhãs. Elas não sentem dó deste pobre diabo que vos fala.
   Esses meus doces sonhos que me realizam todas as noites, são os mesmos que me fazem despertar com o coração amargo por descobrir todas as manhãs... que é tudo ilusão de meu espírito itinerante e devaneador.
   Por isso, meu coração está ferido, porém já repleto de cicatrizes. 
   Eis meu mal tão singular: a Doença dos Sonhos, crônica, degenerativa; que vai formando sulcos em seu coração até que sejam o suficiente para rasgá-lo ao meio, até que você não mais suporte a dura realidade de saber que seus doces sonhos são amargos e extintos.







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· 26/08/2011 ·

Colorida desordem

  • 0





    O amarelo era o elo singelo entre a cor e a coragem. Porém, avidamente a vida mente sobre a sequência das consequências.
    Do amarelo, amar e elo, surgem a cor, a coragem e o singelo. Do amarelo-coragem, procedem amar, elo e cor, que unidos agem.
    A simples desordem da ordem que desmonta as dez montanhas do pensamento, em certo momento.
   Do rubor da rubra dor, o que vem primeiro? O primo ou o herdeiro? Do tintureiro, a tintura ou o tinteiro?
   Desta desordem, seguem-se mais que dez ordens.








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· 26/08/2011 ·

O blog anda parado, não?

  • 5



  Olá,
  Este post é para esclarecer o porquê de o blog andar tão parado e sem textos novos por mais de um mês.
  Bem, primeiramente, peço desculpas aos meus amigos e leitores, que tanto andaram me perguntando o que houve ou se eu havia desistido de escrever. Muito pelo contrário, queridos amigos, o que está me ocorrendo é que tenho dedicado esse tempo ao meu primeiro livro, à minha obra. Terminar meu romance é um sonho que preciso realizar. Comecei a escrevê-lo antes mesmo de completar meus doze anos, e após algum tempo o deixei de lado; minha obra ficou longos anos de lado. Isso não deveria ter acontecido, visto que para quem escreve, uma obra é como se fosse um filho, um pedaço de nós.
  Enfim, o blog ficará um tempo sem coisas novas, mas vocês serão muito bem recompensados no fim da minha primeira obra, estou escrevendo com toda a força de vontade e sentimentos que possuo. O blog voltará à ativa assim que possível com coisas maravilhosas para vocês, leitores e amigos.
  Torçam por mim para que minha obra seja terminada e aceita!
  Um enorme beijo a todos, e muito obrigada pela preocupação e compreensão.





Manoelle D'França 


Angustiamor

  • 2





Ele dizia que as chagas haviam se fechado
E que as injúrias haviam sido superadas
Dizia que somente as mãos dela tocavam as suas
E que seus cabelos eram os únicos que se mantinham presos
no travesseiro dele pela manhã.
Ele dizia que a pele dela era a única coberta que aquecia
seu corpo no frio
E que seus olhos eram as únicas lâmpadas que ele acendia
nas noites em que a escuridão se fazia sombria.


E, apesar da dor, ela cria piamente em tudo.


Ele dizia que a cintura dela era a única silhueta de barro
moldada por suas mãos de oleiro
E que os seios dela eram seu único regaço
E que as unhas dela eram as únicas garras que marcavam seu corpo.


E, apesar da dor, ela cria piamente em tudo.


Ele dizia que quando não voltava depois da aurora
era porque estava desenhando seu rosto na areia da praia
E que quando a mandava fazer silêncio,
Era para que pudesse admirar mais facilmente as nuances de sua beleza.
Ele dizia que quando puxava seus cabelos, era para que
pudesse beijar seu longo colo com mais afinco.


E, apesar da dor, ela cria piamente em tudo.


Ele dizia que quando comprimia seu braço, era para que
pudesse trazê-la ao seu peito com mais rapidez
E que as marcas que permaneciam,
Eram marcas de amor.
Ele dizia que a pressão dolorosa que ela sentia nas faces de seu rosto
não eram bofetadas,
Eram o sopro de suas mãos masculinas no seu rosto feminino,
Para que ela sentisse suas indignações e a proporção de seu amor desenfreado.


E, apesar da dor, ela cria piamente em tudo.


Ele dizia que a sombra roxa nos olhos dela eram apenas rastros dos momentos insensatos
de seu amor doentio
E que sua falta de dentes era um pedido de que aquele amor permanecesse em segredo sacramentado,
Apenas entre eles dois.
Ele dizia que a amava.


E, apesar da dor, ela cria piamente em tudo.






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· 25/05/2011 ·