Admirei a Lua antes de partir.
Conversei com ela
e confessei ter acordado pensando em coisas sem sentido,
Do tempo em que, à noitinha, eu sussurrava em seu ouvido.
Senti saudades do que não tive, daquele amor não correspondido;
Dos sonhos que, jogados pela janela,
Foram parar em outros travesseiros;
Daqueles teus carinhos, tão cínicos e traiçoeiros.
Desci, então, as escadas do velho terraço
e fui em direção ao quarto pouco iluminado;
Despedi-me do facho de luz que me escapava pela cortina.
Deslizei os dedos pelos livros empoeirados
E despedi-me docemente do antigo espelho quebrado,
Que todo o tempo lembrava-me de meus fracassos;
Mostrando-os a mim todos os dias de minha vida,
Não permitindo-me que se sarasse sequer uma ferida.
E então, parti.
Mas deixei um rastro antes de ir.
Rastro feito com o sangue da ferida exposta em meu coração,
Ferida feita pelas punhaladas da solidão.
Em meu sangue, sujei a velha caneta-tinteiro
e deixei uma mensagem ao próximo marinheiro:
'E daqui partiu com a Lua um espírito solitário,
Que não mais cursa o mesmo caminho.
Alguém que após o abandono,
Sentiu o frio da solidão congelar o sangue
outrora corrente em suas veias.
De um coração moribundo largado às tantas de uma madrugada.
De um ser andarilho viajando de volta ao pó da criação humana.
De uma única centelha apagada há tempos.'
✻ Veja esta publicação no Juventude Clichê.
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O trabalho Partindo com a Lua de Manoelle D'França está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição Não Comercial Sem Derivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível no blog Maphago.
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· 10/10/2011 ·
· 10/10/2011 ·